Meu nome não importa - Parte 1
- Beatriz Montteh
- 30 de jun.
- 3 min de leitura

Era sábado à noite, e o calor abafado grudava na pele como um convite irrecusável para ficar em casa. A lua cheia pendurada no céu não era apenas grande—era hipnótica, vermelha como brasa, tingindo a rua de um tom sobrenatural. Algo no ar me dizia que aquela noite não seria comum.
Mas, no fundo, eu só queria ignorar tudo aquilo. Afinal, a semana tinha sido cheia.
Estiquei o braço para desligar o celular—sem mensagens, sem convites, só eu, meu sofá e a promessa de um maratona de séries. Mas o destino, como sempre, nos surpreende.
Tring.
"Amiga, você não vai acreditar—o tal bar novo no centro? Dizem que tem um segredo. Algo que só acontece em noites de lua vermelha. Vamos. E sem desculpas desta vez." - era Juliana, a minha melhor amiga.
Eu revirei os olhos. Segredo? Provavelmente algum truque de marketing para atrair trouxas como a Juliana. Mas antes que eu pudesse responder, outra mensagem chegou:
"Já estou a caminho. Se você não estiver pronta, te arrasto de pijama mesmo."
Era inútil resistir.
Às 20h, o barulho de uma buzina ensurdecedora rasgou a calmaria da rua. Quando me debrucei na sacada, lá estava ela — toda animada e sorridente a me esperar.
E, contra toda a minha vontade, eu sabia que não tinha escolha—tinha que descobrir o que diabos estava acontecendo naquele bar.
E se a lua vermelha não fosse apenas um acaso?
Capitulo 2
Não esperávamos por isso, mas o bar, naquela noite estava quase vazio— e a banda tocava algo que mais parecia um ruído de fundo, e eu já me arrependia de ter cedido à insistência da Juliana.
Enquanto ela devorava seu terceiro drink, os dedos deslizavam pelo celular, digitando mensagens cada vez mais bêbadas para o seu ficante da vez. Eu, ainda no primeiro drink, fingia interesse nas histórias desconexas dela sobre os seus encontros com o seu novo ficante.
Foi então que ele apareceu.
Um vulto à beira da calçada, iluminado apenas pelo néon piscante do bar. Alto, vestido de couro preto, encostado em uma moto que parecia saída de um filme de máfia. O cigarro entre seus dedos queimava lentamente, e a fumaça se enrolava no ar como uma serpente.
Ele conversava com outro homem, mas algo na postura dele era diferente—calculista, perigoso.
E então, ele me viu. Afinal, não estávamos sentadas muito longe da entrada daquele bar.
Não foi um olhar casual. Foi uma investida. Seus olhos escuros travaram nos meus, sem sorrir, sem piscar. Como se já me conhecesse de algum lugar—ou como se eu fosse algo que ele estava caçando.
Meu corpo gelou. Eu devia ter desviado. Devia ter fingido que não tinha notado. Mas, contra todo instinto, continuei encarando.
— Que gato — Juliana arrancou um riso bêbado, seguindo minha linha de visão.
— Qu— quem? — gaguejei, fingindo inocência.
— Aquele de couro que você tá secando há cinco minutos. — Ela inclinou-se, voz baixa e provocante. — Ele não tirou os olhos de você. Vai lá.
Meu coração disparou. Mas, o que eu tinha a perder? A noite não estava como esperava. Juliana logo me abandonaria pelo ficante. E aquele homem...
Ele ainda me observava.
Sem se mover. Sem sorrir.
Como um predador esperando o momento certo.
E, de repente, eu sabia: se eu cruzasse aquela porta, nada seria como antes.
Me aproximei, instigada por aquele silêncio que me fazia gritar por dentro.
— Tá esperando alguém? — perguntei.
— Talvez. — ele respondeu, olhando para mim de cima a baixo, como se cada parte do meu corpo dissesse algo. — Ou talvez estivesse esperando só você.






